sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Coisas da infância ou pode chamar de puro saudosismo

Num passado não “tão distante”, perdido lá pelos idos da minha infância e pré-adolescência, perto de casa tinha um supermercado: o Jumbo Eletro. O estacionamento não tinha grades ou cancelas, era livre acesso a quem quisesse passar por lá a qualquer hora do dia ou da noite. Um tempo em que os supermercados não abriam aos domingos e, sendo assim, o estacionamento era todinho nosso! Era lá que os pais levavam seus filhos para aprender a andar de bicicleta. Era lá que a gente brincava, andava de skate, jogava futebol. Era lá que muita gente do bairro se encontrava nos domingos ensolarados, transformando o estacionamento do Jumbo numa extensão da Praça Oscar logo em frente.

Mas, como dizem por aí, São Paulo é uma cidade mutante e seus bairros crescem e se transformam. O Jumbo fechou suas portas para tempos depois dar lugar a uma enorme concessionária de carros. Iniciava-se assim uma nova era: a das grades e dos carros. Com tristeza vi desaparecerem com ele as bicicletas com rodinhas, os jogos de futebol, as quedas de skate, os meninos com suas façanhas para impressionar as meninas e os domingos ensolarados ficaram restritos à pracinha.

Mas, como também dizem por aí, o tempo não para...hoje em dia o lugar voltou a ser um supermercado, no seu estilo mais contemporâneo, com lojas adicionais, praça de alimentação, estacionamento coberto, verticalizado e bem fechadinho. Afinal, para que ter espaços amplos e ociosos? Hoje, fui até lá fazer umas comprinhas básicas para o lar e dentro daquele espaço marmorizado, no meio de gôndolas, prateleiras, caixas, esteiras rolantes, refrigeradores, um túnel do tempo me sugou de repente e me peguei vislumbrando as bicicletas com rodinhas, os circuitos improvisados de bicicross e de skate, os meninos impressionando as meninas, as “reuniões” de planejamento para o próximo bailinho. Após alguns minutos, abandonei o saudosismo que baixou em mim e voltei pro meu hoje e agora queixosa do preço absurdo da quinoa...

sábado, 18 de setembro de 2010

Coisas de momentos

Hoje ao tirar fotos da minha mãe com cabelos ao vento lembrei-me de duas das ocasiões em que estive na mesma situação só que do lado de lá. Pensei imediatamente que devo sofrer de uma síndrome de cachorro ao vento. Sabe aquelas cenas em que se vê cachorros com a cara de fora da janela dos carros, curtindo um ventinho? A carinha deles parece dizer que aquilo sim é um estado de felicidade, de prazer... Acho que é por isso que dizem por aí que a felicidade tá na cara!

E é exatamente isso o que penso quando vejo duas seqüências de fotos minhas em momentos bem distintos.

Tá na cara que eu estava simples e completamente feliz nesses dias.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Coisas da serenidade

Dias atrás li um post do Miguel Vale de Almeida no facebook recordando uma fala de seu pai que dizia: “Tudo se há de resolver”. Ou seja, tenha confiança que sempre há uma solução. Isso me fez recordar algumas das aulas que tive sobre meditação onde eu percebi que muito do sentimento de confiança estava relacionado a um estado de serenidade. Há quem diga por aí que serenidade é passividade, não-ação. Mas acredito que não seja isso não. Creio que seja mais a manutenção de um certo equilíbrio, tranqüilidade que permita avaliar nossos próprios sentimentos e pensamentos sem ecos ou ruídos. Mesmo que estes aflorem de maneira desordenada, sem qualquer lógica aparente, conseguiríamos vê-los mais claramente sem aquela urgência gritante que a nossa própria angústia e ansiedade promovem.

Eu já pude observar esse tipo de serenidade em algumas pessoas. Ah...e como eu já as invejei! Até que nas aulas de meditação, o professor falou da importância da respiração para atingir um estado mais sereno. Respirar era preciso. Respirar pro-fun-da-men-te. Qualquer turbilhão de sentimentos poderia ser atravessado ou amenizado com ajuda de um respirar.

Um aprendizado que levo comigo até hoje e que tenho procurado exercitar. Não, ainda não reconheço em mim aqueles que um dia invejei. Mas percebo que isso muito já me ajudou a ter aquela confiança que falava o pai de Miguel de que “tudo se há de resolver”.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Coisas que se perderam

Alma Perdida
(Florbela Espanca)

Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente…
Talvez sejas a alma, a alma doente
D’alguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste… e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh’alma
Que chorasse perdida em tua voz!…

sábado, 11 de setembro de 2010

Coisas que Salvador me deu 1

- A Ilha logo alí
- Ir e voltar do trabalho conhecendo os humores do mar
- Bolinho de estudante
- O cortejo da lavagem do Bonfim: onde se é abençoada com água benta, água de cheiro e banho de pipoca
- Almoços em família na casa de Guara
- São Lázaro
- o pôr do sol no Farol da Barra
- A travessia do Ferry Boat
- A Jam no MAM
- Diálogos soltos na rua com completos estranhos
- Feijoada Baiana
- Oferendas para Iemanjá
- Alfazema e coentro para todos os lados
- Pão delícia
- As caminhadas do Porto da Barra ao Largo da Mariquita
- Vestidos, muitos vestidos
- Cocada mole
- Minha primeira reunião de condomínio
- Meu primeiro concurso para professor universitário
- Frio com 23 graus!
- Ruas que são escadarias
- Olhares perdidos no horizonte
- Abará
- Licor de jenipapo no São João
- Amigos batalhadores e carinhosos
- Minha diversão com a cara dos amigos que descobrem que o Elevador Lacerda não é panorâmico!
- Shows de verão no Porto
- Lambreta

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Coisas engasgadas

Receita de Ana Carolina para desengasgar a alma: cante errado!
Por isso que com minha mais sublime voz de taquara rachada

Quando fico triste, toco o violão
Mas não é por causa dele que eu to triste não
Eu só toco pra por no lugar
A tristeza que tenta ficar
Num canto errado do meu coração

Eu canto errado, eu canto bem
Errado pra fazer sorrir quem gosta dos meus erros
Eu quero bem

Quando tô contente, toco meu pandeiro
Mas não é por causa dele que eu rio
O dia inteiro
Eu só toco pra por no lugar
A alegria que teima ficar
Num canto errado da minha canção

Eu canto errado, eu canto bem
Errado pra fazer sorrir quem gosta dos meus erros
Quero bem


(Canto errado – Ana Carolina)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Coisas que só eu sei

O que eu guardo nas minhas caixas;
Os livros que já li;
As músicas que já me fizeram chorar, sonhar e rir;
As lembranças que me fazem chorar, sonhar e rir;
Os sonhos que me assustam e inspiram;
Os sons que me agradam e desagradam;
As minhas crises de gargalhadas;
O meu sangue quente com os preconceitos;
O meu assombro diante das crueldades;
Os homens que já despertaram meus desejos;
Os momentos que nunca esqueço;
As linhas que ainda vou escrever;
Os caminhos por onde andei;
Os palavrões que sei;
O peso das minhas dores;
A paz dos meus amores.

domingo, 5 de setembro de 2010

Coisas que se quer ao se tornar um novo milionário

Todo grande prêmio acumulado da loteria a gente pode ver reportagens e mais reportagens sobre o que as pessoas fariam se ganhassem aquele dinheiro todo. Os sonhos não são muito diferentes. As pessoas comumente pensam naquelas coisas que podem dar uma tranqüilidade para a vida: a casa própria, ajudar parentes em dificuldades, garantir um futuro material tranqüilo para filhos e netos, um carro para cada pessoa da família, se livrar de todas as dívidas e desfrutar de confortos que na nossa vida ordinária de todo dia, muitas vezes nos é negado. Há pessoas que pensam em montar o próprio negócio, porque um dia o dinheiro acaba, né verdade? Bom, isso em termos...

Para nós, pobres mortais, é difícil conceber o que de fato significa ganhar milhões. Entender que cada dia de aplicação renderia um apartamento de luxo em cidades como São Paulo ou Rio de Janeiro. Digo isso em aplicações modestas, seguras, nada de montanha russa financeira. E pra mim, mais difícil ainda é entender como alguém consegue controlar sua própria vida depois de ganhar alguns metros de dinheiro empilhado. O montante da mega de ontem se empilhado seria três vezes o tamanho do Cristo Redentor!! É um, muuuuuito dinheiro.

Mas conversando com as pessoas a gente vê que as conseqüências negativas de se ter muito dinheiro também são aventadas. Com o dinheiro vem também a cobiça, a desconfiança e o medo de ser enganado ou morto. Dizem por aí, que as vezes você nem precisa ter milhões pra tudo isso acontecer.

Nas entrevistas sobre os sonhos ou desejos que ganhar na mega poderia realizar, uma em particular me chamou atenção. Um senhor de 78 anos disse que gostaria de ganhar na Mega pra poder arranjar uma mulher pra casar. Se depois de ganhar, ele encontrasse uma fininha, com boas formas, bonita, ele casava na hora! E desconfio, pelo jeito com que falou, que ele viu na própria repórter era uma forte candidata....

sábado, 4 de setembro de 2010

Coisas da cegueira

Já escutei muito por aí que as vezes a gente olha mas não vê. Por ignorância, rejeição ou conveniência, eita palavrinha que me tá engasgada, mas enfim, por uma dessas coisas o olhar se condiciona a desfocar a realidade influenciando a forma como ela é percebida. Dizem por aí que é o danado do véu de maya. Uma vez ou outra esse véu vai ao chão e a realidade nua e crua se revela...saber lidar com isso é que é fogo!

E como é triste constatar que há pessoas que te olham, mas não te vêem. Estão tão perto, mas tão longe para ver quem você é. É duro constatar que a cegueira é a palavra de ordem e não a exceção.

Cegueira Bendita
(Florbela Espanca)

Ando perdida nestes sonhos verdes
De ter nascido e não saber quem sou,
Ando ceguinha a tatear paredes
E nem ao menos sei quem me cegou!

Não vejo nada, tudo é morto e vago…
E a minha alma cega, ao abandono
Faz-me lembrar o nenúfar dum lago
´Stendendo as asas brancas cor do sonho…

Ter dentro d´alma na luz de todo o mundo
E não ver nada nesse mar sem fundo,
Poetas meus irmãos, que triste sorte!…

E chamam-nos a nós Iluminados!
Pobres cegos sem culpas, sem pecados,
A sofrer pelos outros té à morte!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Coisas da certeza absoluta

É de minha natureza desconfiar das certezas absolutas, mas confesso que sou convicta sobre algumas coisas. Tenho certeza absoluta do amor que sinto por minha família, que fui feita de amor e, como canta Ana Carolina, “sou feita pro amor da cabeça aos pés e não faço outra coisa senão me doar”. Assim como também tenho certeza de que chocolate e sexo são prazerosos, mas que um não substitui o outro (Nem a pau Juvenal!!). Sei que de perto ninguém é normal, que Deus existe e que a mistura de timidez, inteligência e um belo sorriso me conquistam fácil, fácil. Mas com toda a certeza de minha alma nasci, vivo e morrerei Glaucia dos Santos Marcondes: a corinthiana!

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Coisas do acordar

O calor que faz nessa cidade me fez ter o hábito de manter as janelas sempre abertas. Acostumei-me a dormir olhando as estrelas e a lua. Ver a chuva cair sem ser atingida. E acordar com o amanhecer que clareia aos pouquinhos, mesmo nos dias nublados. Nos meses de verão é a brisa que me desperta, aliviando a temperatura de uma noite quase tão quente quanto o dia.

Nesses dias algo novo nessa rotina aconteceu. Meus olhos que ao despertarem rapidamente contemplam o céu que desfila na minha janela tiveram mais dificuldade para vê-lo. Meu rosto que é sempre tocado pela brisa, também demorou a senti-la. Meu corpo sempre, bom...quase sempre, ágil e disposto a movimentar-se quando acordo, estava praticamente inerte. Algo de muito errado estava acontecendo. Foi quando me dei conta da minha infidelidade e que a conseqüência seria penosa. Por uma noite troquei a segurança e o aconchego por um fuleiro safado que não está nem aí para a integridade do meu corpo. Ah...essas bobeiras que a gente faz na vida. Uma noite apenas e, diga-se de passagem, nem foi lá AQUELA noite! Mas agora já é tarde, esse bendito torcicolo me ensinará direitinho o que acontece quando se dorme com o travesseiro errado.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Coisas que acontecem

Há dias que são dias, costumo dizer. Onde o que governa é a intensidade com que se vê certos imponderáveis da vida. Pode ser a raiva que explode, a frustração que domina, a decepção que prostra, o abandono que fere, a tristeza que emudece, a saudade que aperta, o gesto que comove, a alegria que transborda, a ansiedade que eletrifica, o desejo que arrepia ou o amor que suspira. Porque há dias em que essas coisas acontecem de arrebato. Sem aviso prévio. Ou talvez seja assim que a gente percebe que elas acontecem.

Há dias que são dias. Porque o corpo fica desperto e se sente mais do que nunca que se está vivo e que o coração pulsa.

Há dias que são dias. Onde o que se quer é a cumplicidade de um olhar, o afago de uma mão terna, o aconchego de um abraço, a luz de um sorriso, o companheirismo de um silêncio, a paz da solitude, a irreverência de uma graça, o som de uma gargalhada, o contentamento de uma aproximação, o cheiro de uma pele, a união de corpos, a delicadeza e o calor de um beijo.

Há dias que são dias porque o que acontece mexe com o corpo e a alma da gente.
Há dias que são dias porque os outros dias são simplesmente....dias.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Coisas desse menino Maycon

Dizem por aí que o baiano tem um ritmo diferente. O tempo e a ação dos baianos obedeceriam a uma lógica única. Tudo se desenvolve com certo vagar despreocupado. Ah, mas não é tão simples assim. Principalmente se você conhecer esse menino Maycon. Menino franzinho, olhar sempre distante e distraído, de andar arrastado e ao mesmo tempo firme. Eu acho graça nas suas expressões faciais quando algo está rápido demais, cansativo demais ou pesado demais. Algo como fora do ritmo que a vida lhe deu. E aí que vem a pausa pro cigarro. A estratégia máxima para trazer tudo em volta ao seu ritmo preferido. Se você não vai acompanhá-lo, tudo bem. O importante é que ele chegará lá também. E chegará bem. Pode apostar.

Acredito que haja um descompasso quase constante entre seus pensamentos e suas ações. Eu sempre “sinto” que os pensamentos desse menino Maycon estão muito além do aqui agora. Há quem ache que pessoas assim estão fora de órbita. Pode até ser. Mas não se iluda. Porque pessoas como esse menino Maycon quando resolvem botar pra fora tudo aquilo que estão curtindo por dentro são capazes de arrasar quarteirões. Provocam terremotos com suas provocações tão certeiras e afiadas. Faz lembrar até aquele bordão humorístico: “Mexe com quem tá quieto”. Há uma inocência nada inocente, me permito dizer. O sorriso solto é só na proximidade. Apenas na intimidade. O abraço é pra aquecer. É pra levar um pouco dele com você. Sempre.

Esse menino Maycon tem a alma inquieta. Não de qualquer inquietação. Mas do tipo próprio dos poetas e desbravadores, que também não seguem no ritmo do mundo. Por essas coisas que me cativa tanto esse menino Maycon.
Agora esse menino Maycon vai experimentar outras paradas, perder seu olhar em outras paisagens e soltar o verbo com outros sotaques. E que nossos patrícios se cuidem, porque tudo será no ritmo...dele.

Para esse menino Maycon eu pego emprestado a poesia de outro baiano pra dizer que depois dessa nova aventura que começa agora “um dia vou ver você/ chegando num sorriso/ pisando a areia branca/ que é seu paraíso.” E “debaixo dos caracóis dos seus cabelos/ uma história pra contar/ de um mundo tão distante”. Faça uma deliciosa viagem, meu caro amigo.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Coisas da necessidade

Dizem por aí que a TPM deixa as mulheres com os sentimentos à flor da pele. Seríamos capazes de matar, trucidar, decepar, picotar, soltar os cachorros e rinocerontes contra o sexo oposto. De fato, devo dizer que os estudos existentes são pouco conclusivos. Claro, grande parte deles foi produzido por homens! Desse modo, não poderíamos esperar muita coisa mesmo. Então permanece cercado de mistérios, já que as mulheres sentiriam e sofreriam cada qual de um jeito.

Além disso, essas reações podem mudar com o passar dos anos. Por exemplo, se na adolescência a TPM pode se expressar através de estridentes gritos e atitudes que facilmente poderiam ser confundidos com uma rebeldia típica da idade, na fase adulta pode se transformar num mero, mas muito eficiente, olhar ameaçador. Seria um traço da evolução da espécie? Enfim, dizem por aí que nós mulheres todos os meses, durante essa fase, vamos aprimorando nossos comportamentos. E pobres homens e outros familiares procurariam alternativas para sobreviverem a esse período geralmente tempestuoso. Já ouvi boatos de facas e tesouras que misteriosamente somem por alguns dias. Viagens de trabalho sempre na mesma época. Se não me engano ouvi falar algo de colete à prova e balas, roupas almofadadas, mas aí já acho um tremendo exagero.

Contudo, parece que há uma coisa que melhoraria o humor de 9 a cada 10 mulheres em TPM. Dizem por aí que é tiro e queda. Efeito imediato. Como, nesse caso, eu sou como São Tomé, SÓ ACREDITO COMENDO! Então, eu peço que me ajudem a comprovar os efeitos desse medicamento criado pela MARIA BRIGADEIRO. Aceito contribuições. Porque vocês bem sabem, eu poderia roubar, matar, mas estou aqui pedindo humildemente para que me ajudem a adquirir esse remédio, muito recomendado. Caso contrário...te encontro na minha próxima TPM....

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Coisas de Pedrão

Desconfio que São Pedro designou uma nuvem para me perseguir. Sim, eu sei que ainda estamos no tempo das chuvas, que elas são comuns, que não me atingem unicamente. Mas já começo a achar que Pedrão tá gostando dessa coisa de mandar chuva SEMPRE alguns metros antes de eu chegar ou logo depois de eu sair do trabalho. Algo do tipo distante o suficiente do ponto de saída e de chegada e sem qualquer lugar para se abrigar.

Você pode estar se perguntando: “sua tapada, por que não anda de guarda-chuva?” Pois é, eu bem que tentei. Já tive uma sombrinha como também aquele preto gigante. Mas entenda, a chuva do inverno baiano não vem sozinha, ingenuamente, como quem não quer nada. Ela vem devidamente acompanhada com ventos fortes. E eu posso lhe garantir que não há pessoa nessa cidade que já não tenha pagado um bom mico, protagonizando cenas dignas de uma vídeocassetada ou de algum filme famoso.

Se o seu guarda-chuva, adquirido em loja “a partir de 1,99” ou de um “pequeno empreendedor” que você esbarrou em alguma esquina por aí, for suficientemente resistente para não ser retorcido ou despedaçado, muito provavelmente você terá sua calça molhada até acima dos joelhos. Acho que Pedrão deve se divertir com nossas (des)habilidades em segurar o cabo, a bolsa e ainda tentar desdobrar a lateral do guarda-chuva que insiste em ficar virado pro lado errado. O que dizer então das tentativas de segurar aquele preto enorme que insiste em querer ser como aquela velha música cantada pelo Biafra e “voar, voar, subir, subir”. Para aqueles com 1,50m de altura, como eu, pode até significar a realização de um sonho de infância e começar a voar como Mary Poppins. Ou ainda se transformar numa versão de saias do Gene Kelly cantando na chuva. No meu caso, já realizei os dois. O problema vai ser se Pedrão resolver radicalizar e passar dos musicais para as aventuras, tais como, Náufrago, Twister, A Arca de Noé...

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Coisas da natureza

O mar sempre me trouxe boas conversas e desabafos. O som das ondas, a cor da água, a linha do horizonte que se mistura...e o vento vai levando tudo embora, como diria o Renato Russo. De alguma forma sempre me senti abraçada pelo mar. Ele me solta, me deixa livre, me deixa em paz.

E agora veio a terra me mostrar que ela também pode trazer paz em vida, não apenas na morte. Eu fecho os olhos e vejo aquele teto de pedra, com suas camadas que na profundidade e na escuridão formam um céu desenhado. Um céu noturno, parcialmente nublado. Algo como um campo bem longe das luzes da cidade, iluminada apenas por lampiões. Engana os olhos e o sentido, pois por segundos até parece que não há limite ali, faz parecer uma imensidão. Ao ser convidada para ficar na total escuridão e silêncio, senti a terra me aconchegar.

Cruzei a extensão daquela gruta admirada com suas esculturas naturais produzidas pelo pingar ininterrupto das águas. Ao sair de lá tive a certeza que eu também não passo de um grão de areia.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Coisas da ambição

Tenho esbarrado com tanta gente que está em uma busca obstinada e angustiada por certezas e seguranças dessa vida. E o que eu tenho a oferecer é apenas perguntas sobre as muitas coisas que ainda não sei e as supresas que tive com as coisas que eu nem imaginava que poderia um dia descobrir.
Dizem que eu não tenho ambições. Talvez porque meus desejos verdadeiros não sejam aqueles que mobilizam as grandes ambições do mundo. Mas eu desejo sim, um mundo que está contido em cada dia. Tudo aquilo que faz pulsar. Eu desejo a plenitude todos os dias. E isso é deveras ambicioso, ô se é!

domingo, 1 de agosto de 2010

Coisas do amor

E mais de uma década se passou desde daquela tarde quando eu a vi pela primeira vez naquele banheiro no fundo do quintal. Um corpo pequeno, frágil, quase totalmente despido e de proporções distorcidas. Praticamente a cópia do pequeno ET que tenho grudado na porta da minha geladeira. Exceto pelo tom esverdeado, é claro. Era tão feinha, perto da exuberância exibida por sua irmãzinha, siamesa mestiça, já com lindos e sedutores olhos azuis. Mas foi amor à primeira vista. Arrebatador. A sensação e a imagem deste dia estão gravadas em contornos profundos na minha alma. Maluca é um dos amores da minha vida. Foi minha fiel companheira por 11 anos. E até na morte, há exatos 1 ano, assim permaneceu. Sua curiosidade e resmunguice eram cativantes. Mesmo para aqueles que não gostavam de gatos, por desconhecimento ou falta de apreço.

Dizem por aí que cada vez mais as pessoas exageram no amor por seus animais de estimação. Dizem ainda que se trata de um tipo de relação que visa sanar problemas de afetividade, carências de vidas vazias de relações humanas satisfatórias. Pode até ser que o estereótipo das pessoas, insanas, solitárias e que vivem somente com seus animais, seja a expressão de um mundo de perdas, abandonos e vazios. Mas será que é mesmo? Tá, posso concordar em vários aspectos que as carências humanas tem transformado os animais em brinquedinhos vivos, não só pelos solitários, mas para aqueles que moram com sus próprias famílias. Por outro lado, fico me perguntando se é possível descartar a existência de um amor mais pleno pelos seres. Andem eles em duas pernas ou quatros patas.

O sentimento que Maluca me despertou é do mesmo tipo que me despertam certas pessoas. São os múltiplos amores de minha vida. Eu quero estar com eles, protegê-los, incentivá-los, deixá-los livres, mostrar e compartilhar com o mundo o quanto esses amores são para mim a completude. Não importa se é amizade, se é romance, se é eterno ou passageiro, se é homem, mulher ou animal minha afeição, dedicação, meus pensamentos e orações são igualmente plenos. E a saudade também assim o é. Particularmente hoje, a minha saudade se avolumou daqueles que agora só me permitido reencontrar através das memórias.



Eu não sei explicar, porque algumas palavras me parecem sempre reduzidas perante a intensidade desse tipo de sentimento. Mas veio a mente Milan Kundera na belíssima reflexão do amor que sua personagem Tereza sentia pela cadela Karenin quando esta morreu. Embora eu me debulhe em lágrimas toda a vez que leio, é uma das minhas partes prediletas do livro. De certa forma, me reconheço nesse amor:

"[...] Tereza aceitou Karenin tal qual é, não procurou transformá-la para que ficasse semelhante a si própria, aceitou de antemão seu universo de cachorra, não quer lhe confiscar nada, não sente ciúmes de seus desejos secretos. Se a educou, não foi para mudá-la (como um homem quer mudar sua mulher e uma mulher seu homem), mas apenas para lhe ensinar a linguagem elementar que lhe permitisse se compreender e conviver. E mais: seu amor ao cão é um amor espontâneo, não foi forçado por ninguém. [...] O amor entre o homem e o cão é idílico. É um amor sem conflitos, sem cenas dramáticas, sem evolução." (A insustentável leveza do ser)

terça-feira, 27 de julho de 2010

Coisas da política

Eu nasci em um bairro janista, que depois se converteu naturalmente em malufista. E eu digo com muito pesar que talvez nem o mais eficiente teórico da conspiração seria capaz de abalar a crença cega do eleitorado malufista. Fico até pensando se o título de FIEL que carregam tão orgulhosamente os corintianos, não seria de fato e de direito dos malufistas. Ora, porque o cara já disse coisas de arrepiar os pêlos de qualquer surdo, há décadas vem superfaturando com obras faraônicas, suas falas demagógicas sendo ridicularizadas por todos os ângulos que as edições de TV permitem, até sua foto na sessão de procurados da Interpol parecem não abalar essa figura caricata. Sempre há aqueles prontos para lançar uma justificativa para suas ações, para suas falas...sempre há alguém disposto a soltar a velha máxima do malufismo: ele rouba, mas faz! Confesso que no meu otimismo teimoso pensei, ou pelo menos tinha fortes esperanças, que com o passar das gerações esse tipo de escola política seria reduzida a pó, coisa arcaica, mas infelizmente, gerações mais novas perpetuam e renovam os ares dessa escola.

Ai...dizer que esse cenário me dá desânimo é pouco. Fica ainda pior quando se considera o que “eles” planejam para o futuro. Como se sentir diferente diante de um Russomanno que aspira ser governador e um Paulo Maluf que diz que só Deus irá tirá-lo da vida pública? E saber que isso não é apenas delírio deles, mas que há chances plausíveis para que aconteçam.

Talvez desalento seja uma boa palavra. Afinal no cenário político que temos estamos lidando nos termos das alternativas menos piores. Bom...ainda bem que elas existem!
De qualquer modo ando me sentindo como naquele velho ditado: quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece! Cruzes!!

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Coisas da modéstia

Nos meus delírios Nietzchianos ousados
Eu me conquisto...Tu me conquistas...Ele me conquista...Nós me conquistamos...
Vós me conquistais....Eles me conquistam....E assim tá tudo conquistado por mim!

domingo, 25 de julho de 2010

Coisas do engano

Sabe aquelas ligações que são enganos? Daquele tipo motivado por alguém distraído, com dedo grande ou cego mesmo que digitou errado alguns números e fez com que você saísse estabanada, tropeçando nas coisas, xingando os móveis que “de repente” apareceram na frente do seu joelho ou do dedo do seu pé para atender um telefonema que na verdade não é para você? Que atire o telefone quem nunca passou por isso!

Pois bem, você já reparou como as pessoas te recompensam por isso? Um simples e educado “desculpa foi engano” seria o suficiente, mas a vida nunca é simples, não? Tem sempre alguém complicando até os enganos....

Há aqueles que te reservam o completo silêncio.
- Alô
- Alô...o fulano está?
- Não tem ninguém aqui com esse nome não
- (silêncio absoluto)
E desliga


Muito próximo disso está a grosseria, má educação mesmo, que quando você fala que é engano nem faz silêncio, já desliga direto na sua cara! Isso é a mais pura expressão da ingratidão!!

E o que dizer do povo incrédulo? Ah esses estão na moda ultimamente.
- Alô
- Alô...o fulano está?
- Não tem ninguém aqui com esse nome não
- Como não?
- Não tem
- Mas tem certeza? O apelido dele é fulaninho...
- Nem fulano, nem fulaninho
- Oxi...tem certeza mesmo?
- Tenho
- Então tá bom.

Praticamente um São Tomé: só acredita vendo!

Dos apressados você ganha um mico. O deles, é claro.
- Alô
- E aí vagabundo vai vir ou não? Já to aqui esperando para passar a mão na sua bunda murcha, seu viado!
- Sua mãe sabe que você faz essas coisas menino?
-Ops! Acho que foi engano!


Ah..mas você também pode receber uma cantada.
- Alô
- Oi... queria falar com sicrana
- Não, acho que você discou errado.
- Ah...mas quem fala, não é do 2222-2222 ?
- Não
- Que pena, desculpa então, pelo menos a sua voz é linda!


E da turma “já que estamos aqui...” você té pode ganhar uma dica.
- Alô
- É do mercado do Seu Carlão?
- Não
- Ichi, é mesmo, ah que eu queria tanto saber se hoje ele tá vendendo aquele bolo de milho que a esposa dele faz...você conhece? É uma delícia minha filha! Sabe onde é o mercado do Seu Carlão? Eu te explico, é facinho...


Por falar nisso, não é que o bolo de milho era bom mesmo? Há enganos que podem virar acertos.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Coisas do desassossego

Não paro de pensar naquele sorriso incontrolável de Bruno ao som dos gritos e acusações de assassinato. Sorriso aberto, dentes brancos, de um homem alto, de porte atlético...saiu assim, algemado, altivo e rindo diante de flashes e microfones...e gritos, muitos gritos.
Causou-me um desassossego aquele sorriso. Seria do tipo riso de nervoso ou de um louco? De onde vem aquela expressão de altivez? Da certeza de inocência ou da segurança de que o crime compensa? E sigo nesse desassossego...

Uns são grandes sádicos, outros são grandes pederastas, outros confessam, com uma tristeza de voz alta, que são brutais com as mulheres. Trouxeram-nas ali, a chicote, pelos caminhos da vida. (Livro do desassossego - Fernando Pessoa)

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Coisas de recomeço

Hoje resolvi dar uma passadinha por aqui...tirar algumas teias, passar uma vassoura, tirar o pó que se acumulou...CARAMBA!!! Só não tinha me dado conta de quanto tempo levei só pensando em retomar minhas linhas.
Mas aqui estou até que um outro buraco negro me apanhe e me cuspa para um tempo mais adiante. Como dizem por aí, quem é vivo sempre aparece...